domingo, 7 de outubro de 2012

Contraste de gerações e o marco da geração "pós x e y" : a leva da ignorância

        Frequentemente encontra-se em artigos, livros e críticas um ataque devastador à geração atual, apontando para a sua indubitável falta de senso crítico, cultura e valor. Pouco se fala porém, nos degraus que levaram a geração atual à queda, e culminaram na mais vergonhosa e humilhante leva de todos os tempos: a geração da ignorância. Seria esta uma geração perdida e voltada ao desamparo cultural? Ou seria apenas um tempo de conturbação e choque de gerações?


Pulando de geração em geração

       Embora não haja um consenso sobre a partir de qual época se começa uma e termina outra, convenciona-se uma divisão de gerações de tempos em tempos, marcados pelo seu aspecto cultural, assim como os diversos acontecimentos que tiveram importância na formação das pessoas de certa época. Um fator interessante que às vezes se esquece de ser mencionado é que uma geração tem influência da geração anterior, do que aconteceu, dos fatores traumáticos e acontecimentos importantes. Portanto, nenhuma leva de pessoas se destaca ou se estraga do nada. Existe todo um diagrama de situações que culmina no pensamento e opinião de um grupo de pessoas nascidas e influenciadas em determinada época.
       A começar pela geração que veio antes da chamada "X", diretamente vinculada ao pós guerra do século passado. Chamada de "Baby boom", se trata do impacto psicológico após a Segunda Guerra Mundial. A onda de otimismo que tomou a população de diversos países, assim como o andamento positivo da economia, acabou gerando uma verdadeira explosão demográfica que foi se acalmar apenas por volta da década de 60, quando a leva X entrou em ação. Os "Baby Boomers", como são chamados, são filhos de pais que participaram ou tiveram profunda influência da segunda gerra mundial. Isentos dos fatores traumáticos dos pais e diante de uma temporalidade promissora, essa geração influenciou o seu tempo por seu otimismo e visão para o tempo diante de si. Caracterizada por abundância de materiais, foi influenciada no Brasil durante o Governo JK. Eram tempos de "Bonança", a hora da economia crescer, o "ressurgir-se das cinzas". Após esse momento de calmaria veio o povo X.
        A Geração X é a geração pós-Segunda Guerra, mas diferentemente da geração dos Boomers, não tinha tanta influência do "momento-pós-desastre, agora é tudo pra frente". Ao contrário, foi uma população voltada à contrariedade. O termo, usado pela primeira vez pelo fotógrafo Robert Capa, que iria produzir um ensaio fotográfico sobre a população nascida no período pós-guerra,  foi posteriormente apontado para a juventude rocker britânica, sendo também citada em diversos livros da época. Este grupo de pessoas tem um destaque importante na história, uma vez que quebraram o cenário utópico e ufanista de positivismo abordados pela geração dos boomers. Eram tempos de mudança, era necessário mostrar que nem tudo eram flores e havia coisas erradas que precisavam ser consertadas. Por seu senso de contrariedade e imprevisibilidade, esta leva recebeu o sinal da incógnita: O "X". No Brasil teve uma leva de movimentos, desde as contrariedades do movimento punk até remanescentes do tropicalismo e afins. Época de impor seus pensamentos, de mostrar a imposição da "geração coca-cola".
       Influenciados pelos ideais da geração X, e com a tecnologia a ser favor, surge a geração Y. herdaram da geração "X" a irreverência, a não-submissão. São pessoas que estão em alto-contato com a tecnologia, enquanto que os X se sentiam à vontade com a mesma. ansiosos e inovadores, impõem seu respeito no trabalho através da sua competência, desprezando a hierarquia. Sim, essa é a geração que assistiu o seriado "Pokémon" na televisão na década de  90 no Brasil1, viu o nascer da tecnologia e se adaptou sem nenhum problema a ela. Cresceram influenciados pela rebeldia da geração anterior, e mudaram drasticamente o cenário trabalhista. São frenéticos, aprenderam a compartilhar e absorver informação, tem mais conhecimento sobre tudo, e são difíceis de se controlar. É graças à essa geração que a internet tem o seu lado positivo e utópico. Embora se preocupem mais com o ambiente e com condições em diversas partes do mundo, fruto da globalização, são também individualistas, é o princípio da reclusão diante da tecnologia para com esta se conectar a todo o mundo. Por não passarem as mesmas dificuldades das gerações anteriores, podem ser considerados mais "paparicados" que estas, a ponto de terem suas suas ideologias e caminhos próprios, ao invés de seguir o caminho de sempre, de respeito, hierarquia, e trabalhar a finco durante anos para se chegar a um objetivo enxergado muitas vezes por essa geração como "simplório". É uma geração imediatista, inovadora, como seu próprio meio de produzir.
       Surgida em  meados dos anos 2000, uma nova geração se formou a partir das mudanças do ocorridas no mundo virtual. Com as portas do mundo virtual abertas pela geração Y, as grandes empresas viram nesse espaço um mundo novo e lucrativo, e a cibercultura teve uma das maiores mudanças já ocorridas no seu espaço. Diversas entidades midiáticas passaram a disputar a atenção do jovem neste cenário, e acabaram por recriar um efeito parecido com a televisão: a atenção modista e focalizada. Por mais que o espaço virtual seja usado num contexto "livre", onde se ach
a de tudo, a mídia foca seus holofotes naquilo que lhe trará vantagem, um conteúdo (não se sabe exatamente porquê) aculturado, supérfluo e desprezível, em um contexto de supervalorização. Compreenda-se o espaço virtual não só ao uso dos computadores, mas toda a forma de fusão tecnológica que celulares, computadores e a televisão tem experimentado. A chamada "geração Z", recebeu uma "sobrecarga" de informação, herdada da sua antecessora, a Y, mas não é um elemento diretamente ativo. Pelo contrário, sofre modificações a cada instante imposta pela mídia, lhes dizendo o que fazer, como pensar. Ao mesmo tempo deglutem sem nenhum resquício de senso crítico aquilo que a mídia oferece, participam indiretamente da produção do conteúdo que consomem, uma vez que estão ativamente presentes no espaço virtual. O resultado é um ciclo vicioso que tal qual um estilingue, remete sombriamente a um avançar da valorização da ignorância, um triste cenário de  "panis et circenses" ou nesse caso, partindo de uma sátira de latim grotesco: "Refrigerantis et cirseces".


O controle Midiático

       O controle midiático da "geração Z" não foi repentino. Foi necessária toda uma educação de desprezo à cultura, e supervalorização à imagem, imposta sobretudo por conteúdo americano2.  A imagem se tornou muito mais importante do que o conteúdo que ela representa. Assim sendo, jogadores de futebol passaram a ter sua imagem muito mais importante que sua profissão, bandas de música tem seus trajes e cortes de cabelo muito mais em conta do que o material profissional que produzem e por aí vai. Claro, a questão do marketing sempre esteve presente, seja na figura demoníaca de bandas como o Black Sabath, ou nos rostos desenhados da galera do Kiss. A diferença, é que por trás de toda o marketing para atrair o público, havia uma ideologia, idéia, ou pretensão por trás das obras dos artistas. Havia algo para se passar ao mundo, um motivo para se manter o olhar sobre a figura, mesmo depois de se esquecer o fator impactante. O motivo pelo qual as entidades midiáticas da "geração z" são endeusadas simplesmente não existe! Convenciona-se em um universo virtual modista que tal figura é "legal", e essa concepção é imediatamente adepta, deglutida e violentamente adicionada ao conceito "universal" desse grupo de pessoas.


Causas, efeitos e perspectivas, conclusões finais

       Muito se tem estudado sobre o impactos da tecnologia na cultura social, e se tem feito diversas pontes entre as tendências tecnológicas e o desamparo social, a solidão e o "amor líquido" lembradas por autores como Bauman, que tem um olhar analítico e não agressivo sobre os acontecimentos. Também se deve desconsiderar obras ignorantes e impregnadas de ódio e incapacidade de compreensão, como o polemista Mark Bauerlein. Não se deve culpar a tecnologia por um evento que envolve economia, cultura e gerações.
       De toda forma, a depreciação cultural da chamada "geração z" é um acontecimento real e que não deve ser ignorado ou acortinado sobre as cortinas corruptas e ufanistas do governo brasileiro. Mas antes de sair por aí provocando um genocídio em massa, vale a pena estudar as raízes do acontecimento, o impacto da tecnologia, entender posições como a do filósofo Pierre Lévy, que vê novas formas de se compartilhar a informação, e como o espaço virtual abre passagens para um universo novo e democrático, onde se pode passar e receber conhecimento. É um tempo de mudanças, como qualquer outro, tem suas conturbações.


1 Embora estudos indiquem a geração Y como no máximo até os anos 90, sendo surgida a parrtir da década de 70, no Brasil, esse período é de meados de 96 até o ano 2000, por um motivo claro: a tecnologia teve profunda influência na formação de tais gerações, e a internet só chegou no Brasil por volta de 96, dando à geração de 90 a oportunidade de "estreá-la". As pessoas que nasceram depois de 96 encontraram um cenário tecnológico sócio-cultural pré-formado, com as empresas e o marketing da rede começando a se instalar no cenário brasileiro.

2 Longe de ser uma declaração xenofóbica, a imposição de uma cultura sobre a outra é uma realidade que se manifesta como ponto negativo da globalização. Sobretudo quando o conteúdo é passado através de uma mídia não interativa, como a televisão. Basta ver o seriados e filmes americanos amplamente difundidos pelo Brasil nos anos anteriores, (os chamados enlatados, citados na música geração coca-cola do Legião urbana) onde as pessoas com conhecimento e valor cultural deveriam ser claramente desprezadas por serem inúteis e idiotas, por serem nerds, expressão hoje usada como entidade modística de um estereótipo juvenil. Por mais criticada que seja a cibercultura, esta proporciona uma vantagem na frente da televisão: a interatividade. Ao dar de cara com um conteúdo, a pessoa pode opinar se concorda ou não com aquilo.


Referências:Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999. 260 http://www.infoescola.com/sociedade/geracao-y/
                     http://www.infoescola.com/sociedade/geracao-x/
                     http://vocesa.abril.com.br/desenvolva-sua-carreira/materia/entendendo-geracoes-x-y-500937.shtml?comments=yes#mostrar